segunda-feira, 6 de julho de 2009

Pensamento

Virás comigo,

disse sem que ninguém soubesse
onde e como pulsava meu estado doloroso
e para mim não havia cravo nem barcarola,
nada senão uma ferida pelo amor aberta.

Repeti: vem comigo,
como se morresse,
e ninguém viu em minha boca a lua que sangrava,
ninguém viu aquele sangue que subia ao silêncio.

Oh, amor, agora esqueçamos a estrela com pontas!
Por isso quando ouvi que tua voz repetia"Virás comigo",
foi como se desatasses
dor, amor, a fúria do vinho encarcerado
que da sua cantina submergida soubesse

e outra vez em minha boca senti um sabor de chama,
de sangue e cravos, de pedra e queimadura.

(Pablo Neruda)

Sem comentários: